Essa semana completei a peregrinação de 705km de Pamplona até Santiago de Compostela pelo famoso “Camino de Santiago” na Espanha (Camino Francês). Seguindo as dicas de Paulo Coelho em seu livro “O Diário de um Mago” (The Pilgrim), eu estava em busca da minha espada: respostas para uma transição de vida e carreira.
Eu vinha de uma carreira extremamente bem sucedida, começando como empreendedor, me tornando sócio e gestor importante de um dos primeiros unicórnios brasileiros. Me tornei um executivo exposto a grandes processos de fusões, re-estruturações, e por fim de uma integração de empresas em nível global. Há quase 1 ano, descobri que não estava mais feliz com meu trabalho. Via que meus sonhos, minha forma de trabalhar, minha vontade de querer construir empresas grandes que impactam positivamente as pessoas e os nossos funcionários não era mais a mesma. Com isso, decidi deixar meu trabalho ano passado e repensar a vida.
Nos 30 dias de jornada, encontrei muito mais que as respostas que eu buscava.
Para se fazer o “Camino” é preciso propósito. Sem propósito você desiste na primeira semana assim que as dores do corpo chegarem, e acredite, elas chegam com tudo. O meu propósito era completar a jornada e tirar lições dela como chaves para eu encontrar minhas respostas para os problemas da vida, e isso me empurrou até Santiago. Para chegar lá é preciso ter fé, é preciso acreditar em algo maior do que apenas andar 700km. É preciso pedir a Deus, para a Força, para a Energia que governa o Universo, que te empurre para frente e que te mostre as respostas, os milagres.
No “Camino” você vê milagres acontecendo o tempo todo, basta estar atento a eles. Os milagres vêm das pessoas, das conversas, das cenas, e da natureza. Você entende que faz parte de algo maior, e você se conecta e se adapta a isso. Você sente frio, calor, você briga contra o vento e agradece pela brisa. Você teme pela chuva e agradece pelo chuvisco. Você desvia das pedras na descida e busca por elas na briga contra a lama na subida.
Para se fazer o “Camino” é preciso estar vulnerável, aberto, disponível. No “Camino” você encontra pessoas incríveis, alguns se tornam amigos para a vida, outros já são amigos de uma vida toda. No “Camino” todos se preocupam com todos, no sentido mais puro, e todos ajudam uns aos outros. No “Camino”, você aprende a importância de aceitar ajuda, ou pelo menos se encher de alegria quando alguém te deseja um simples “bom dia!”, ou um “buen camino!” e te empurra pra frente. No “Camino” todos são iguais, do estudante ao empresário de sucesso, todos andam na mesma direção (praticamente todos) com objetivos muito parecidos.
Para se fazer o “Camino” é preciso entender o valor em ir devagar para chegar longe. É preciso controlar a ansiedade de chegar logo, porque rapidamente você aprende que ela e a pressa são suas inimigas. No “Camino” você é obrigado a se desintoxicar da velocidade do mundo.
Para se fazer o “Camino” é precisao re-aprender a valorizar o simples. É ficar feliz ao chegar numa vila com menos de 50 habitantes, é adorar encontrar uma cama, não importando o que há ao redor dela, é sentir prazer em sentar no chão, é se deliciar com uma comida simples e deliciosa, é desfrutar do vinho da casa incluso nas refeições, e se esbaldar nos maravilhosos pães e sucos de laranja das pequenas vilas espanholas. É aprender o valor do silêncio e da conversa, cada um no seu momento.
Fazer o “Camino” é reaprender a viver, é se olhar no espelho, é aprender a sorrir na dor, é desejar bom dia para os animais, é abraçar o amigo na chegada, é reencontrar Deus e descobrir que somos lesmas na imensidão da sua criação. É viajar pra dentro de você, buscar suas respostas olhando para dentro do seu coração, e descobrir o que é realmente importante na vida.
Buen Camino!!!